Que tal servir flores no jantar?
Há 20 anos, praticamente ninguém comia flores no brasil. a não ser brócolis, alcachofra ou couve-flor, espécies cultivadas e consumidas como verduras - na verdade, são inflorescências ou pedúnculos florais, mais próximas, portanto, do capítulo botânico das floricultura, não das hortaliças. Então, na esteira do sucesso de mercado das ervas frescas, também recente, as flores comestíveis começaram a atrair a atenção de gourmets e chefs de restaurantes sofisticados, interessados na beleza de suas pétalas ou nos sabores sutis, ou incomuns, para compor saladas, pratos quentes, molhos, temperos ou essências para sopas, caldos, etc. Hoje, constituem mercado ainda restrito, mas crescente.
Em São Paulo, maior produtor do país, o Grupo Pão de Açúcar comercializa mensalmente 300 bandejas de 7 a 18 gramas cada, ao preço médio de 5 reais, de capuchinha, amor-perfeito e hibisco. 'É uma linha requintada. Cuidamos desse abastecimento de forma regular nos últimos três anos', comenta Renato Generoso, gerente de FLV (Frutas, Legumes e Verduras) da rede de supermercados. Antes, a procura era pequena, quase nula, segundo ele. Agora, atendendo ao aumento da demanda, as flores comestíveis estão em oferta constante nos balcões de legumes e verduras - sim, FLV, como o cargo de Renato indica. Elas não constituem ramo da floricultura. São alimentos. E nessa condição dividem prateleiras com outras hortaliças em supermercados e lojas especializadas. Como o Empório Santa Luzia, loja sofisticada da capital paulista. Segundo o gerente Geraldo Lima, 300 bandejas mensais têm saída garantida no Santa Luzia. Nesse caso, a preferida é a calêndula, cujo sabor lembra muito o gosto do legítimo açafrão, que custa mais de 50 reais o grama. Geraldo tem ciência de que as flores comestíveis têm vida útil curtíssima - duram no máximo três dias se embaladas e refrigeradas. Ele sabe que o cultivo exige muita atenção e cuidados, que o calor e as chuvas de verão castigam os canteiros, mas acredita que o produtor está marcando touca. 'O consumidor compraria mais se houvesse mais oferta', pensa. Amor-perfeito e capuchinha são as mais requisitadas pelo colorido das pétalas. Flor de manjericão, para sabor mais acentuado no prato, e estrelinha, novidade na culinária.
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Minas Gerais já ocupa a segunda posição no ranking brasileiro das flores comestíveis, atrás apenas de São Paulo. Segundo dados da Superintendência de Segurança Alimentar e Apoio à Agricultura Familiar, pelo menos 500 produtores do estado se dedicam ao cultivo de espécies diversas. Entre eles, Fernando Almeida, produtor de hortaliças hidropônicas em Itabirito, a 50 quilômetros de Belo Horizonte. Fernando cultiva 30 variedades de plantas comestíveis, entregues para uma rede de restaurantes e supermercados da capital mineira. Ele já plantou feijão e milho, no sul de Minas, mas desistiu da agricultura convencional quando uma tempestade tombou o milharal.
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DELICADA PRESENÇA
As flores comestíveis não têm sabor parecido e algumas se transformam em bons temperos. Suas pétalas ou pequenos buquês emprestam um perfume sutil aos pratos.
AMOR-PERFEITO: Faz parte da família das violetas e seu uso é indicado na forma de xaropes para doces e licores. Suas pétalas mergulhadas em vinagre de vinho branco, com um mês de descanso, vira tempero.
BORAGO: O azul arroxeado da flor é procurado para a finalização de receitas. Mas suas pétalas, que ficam cor-de-rosa com o passar do tempo, podem ser usadas no preparo de bebidas, sopas e molhos.
CALÊNDULA: É parecida com a margarida e conhecida por seu uso em cosméticos e pomadas. Na cozinha, pode substituir o legítimo açafrão desde que usada em grandes quantidades. Combina com sopas e peixes.
CAPUCHINHA: Suas tonalidades variam do amarelo ao vermelho e o sabor é apimentado. Lembra um pouco o agrião ou a mostarda, e por isso é muito usada em saladas. Ela acompanha bem carnes e massas.
ROSA: As mais usadas são as minirrosas para decoração. Nas receitas, são usados o óleo essencial da flor, o xarope ou a água aromatizada, que estão presentes em vários doces da cozinha árabe.
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UM CARDÁPIO COLORIDO
SEMPRE FRESCAS: Compre as flores fornecidas no mesmo dia pelo produtor e conserve na geladeira. Caso contrário, elas perdem o viço e as pétalas se enchem de pintinhas escuras. (Fonte: Ervas Dei Falci, MG).
AO ALCANCE DA MÃO: As flores comestíveis são fáceis de plantar e manter, sem falar na resistência ao sol e ao vento, o que as torna perfeitas até em terraços de apartamentos. Para um cultivo caseiro, utilize vasos com no mínimo 20 centímetros de altura, furados na parte inferior. Espalhe uma camada de pedriscos dentro deles, depois areia e, por cima, a terra. Tire a muda do saquinho, centralize no vaso e pressione o torrão de forma que a parte florida fique um dedo acima da borda do recipiente. Escolha um local que receba sol pelo menos quatro horas por dia e regue diariamente. (Fonte: Sabor de Fazenda, SP).
CONSUMO CONSCIENTE: A maneira mais fácil de usar as flores é espalhá-lhas nas saladas. Mas elas podem entrar na composição de sopas, pudins e sobremesas. As de alfazema e de rosas misturadas com açúcar aromatizam biscoitos e bolachas. Porém, tenha cuidado na escolha das flores, porque muitas delas são venenosas ou tóxicas. Por isso, elas devem ser cultivadas pela própria pessoa ou adquiridas de produtores que se dedicam ao cultivo orgânico, e não no comércio de floricultura. (Fonte: Gil Felippe, botânico).
Fonte: Revista Globo Rural (http://revistagloborural.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/1,3916,1706205-1641-1,00.html).